segunda-feira, fevereiro 14, 2022







DIA DE NAMORADOS


Eu ando sempre em cuidados

P'ra agradar ao meu amor

No dia dos namorados


Dei-lhe um beijo e um regador.


Procuro viver a vida

Pacata e tranquilamente, 

O que é ideia excelente, 

Que não deve ser esquecida, 

Se a queremos comprida. 

Mas, para mal dos meus pecados, 

Aos dias mui bem passados

Segue-se forte aflição. 

Por uma ou outra razão, 

Eu ando sempre em cuidados.


Em tempos não era assim:

Se um casal se adorava

Bastava. Não celebrava, 

Neste grande frenesim, 

O bento São Valentim. 

Hoje, temendo o pior, 

Rezei a Nosso Senhor

Que me quisesse valer. 

- Meu Deus que hei de oferecer

P'ra agradar ao meu amor? 


Quem não mergulha em dinheiro

Rosas oferece, encarnadas, 

Colhidas pelas estradas,

Com olho e ar prazenteiro, 

Naquele e noutro canteiro, 

Nos velhos hipermercados, 

E assim ficam descansados.

Os mais ricos, um tesouro, 

Cobrem a esposa de ouro

No dia dos namorados. 


Porém há mais a brilhar

Que ouro resplandecente. 

Lembrei-me. Recentemente, 

À escola fui plantar, 

Com alunos seus a ajudar, 

Ervas de cheiro, ao dispor, 

Em canteiros, de primor. 

Sabendo do seu agrado

E por ser apropriado

Dei-lhe um beijo e um regador. 


Aníbal Raposo

Relva, 2022-02-14