sexta-feira, janeiro 31, 2020





















POESIA

Onde há vida
a poesia é.

A arte do poeta
consiste, simplesmente,
em revelá-la aos mais distraídos.


(No dia mundial da poesia)

Relva, 2016-03-21
Aníbal Raposo

quinta-feira, janeiro 30, 2020



















DESEJO
Voa devaneio meu
nas asas soltas do vento
e roça as ondas deste mar cavado
onde semeio o meu desassossego.
Voa, sem medos e liberto,
pois é sempre do ar que se vislumbra
a toca do saber, que é presa esquiva,
e os ramos onde se ocultam na folhagem,
os frutos mais saborosos da loucura.
Depois repousa, no fruir
da emoção da caça
e do morder dos pomos.
Descansa,
que Deus, que é Deus,
também o fez.
E procura o melhor poiso para o efeito:
a segurança da âncora das boas memórias.

Relva, 2020-01-31
Aníbal Raposo
(Wish - foto de Tommy Ingberg)

segunda-feira, janeiro 27, 2020















POENTE


Hoje
Vou deixar girar a mó.
Não me posso sentir só
Neste cantinho.
Ouve,
Tenho em frente um oceano.
Na cabeça o doce engano
Dum bom vinho.

Fez um belo entardecer.
O pôr-do-sol foi de morrer.
Uma nuvem de estorninhos.
Fim do dia.
Na cara um vento tão quente,
A lua em quarto-crescente,
E os cagarros dão-me tanga
Em sinfonia.

Hoje
Liguei à ilha montanha.
A linha aqui sempre se apanha
Por um triz,
Sorte! Consigo comunicar!
Liguei só para informar
Que sou feliz.



Aníbal Raposo
Rocha da Relva




























Estou aqui nesta mornaça,
Tenho a voz um pouco baça
Anda no ar uma graça,
Que é mulher.
Faço cantigas à toa.
Oh Natália dá-me a loa.
Que a poesia é coisa boa
E p’ra comer.

Hoje
Estou sozinho na fajã.
E bem sei que amanhã
É um novo dia.
Sigo
Aquela estrela cadente.
Há um cheiro aqui presente
A maresia.

O tempo corre devagar.
As uvas estão a pintar.
A vindima será boa
E estou contente
Fico para aqui pensando
(Já nem sei se estou sonhando...)
Que há um gosto amargo-doce
No poente.





terça-feira, janeiro 21, 2020





ORAÇÃO AO SENHOR SANTO CRISTO
(escrita a pedido do irmão romeiro Flávio Moniz)
Oh meu Senhor Santo Cristo A Vós elevo o meu canto Abençoa o nosso rancho Cobri-nos com o vosso manto Seja Bendita e Louvada Vossa Paixão dolorosa Morte cruel e a seguir Ressurreição gloriosa Oh meu Senhor Santo Cristo És luz dos nossos caminhos Queremos pedir perdão Por essa coroa de espinhos Pelo sangue derramado Nessa face abençoada Libertai-nos do pecado Nesta vida atribulada P'los açoites que Vos deram Nós Vos pedimos perdão E caímos de joelhos Em ato de contrição Perdoai por cada chaga No Vosso corpo, p'la dor, Cada uma representa Uma afronta a Vós Senhor As Vossas mãos amarradas Na flagelação, no suplício Espelham nossos pecados O fundo do precipício Cada oração que rezarmos Nas contas deste rosário Servirá p'ra recordarmos Senhor o Vosso Calvário Perdoai-nos bom Jesus De Vós termos escarnecido Nós somos a Vossa cruz Compaixão meu Deus querido Oh meu Senhor Santo Cristo Termino a minha oração Nesta nossa caminhada Deitai-nos a Vossa bênção


Relva, 2020-01-20
Aníbal Raposo