quinta-feira, janeiro 21, 2021


 














A ARTE DE CAVALGAR TODA A COELHA

As saudades que eu já tinha
De montar a coelhinha
Tão fofinha quanto eu.
A voar com os de bem,
Que os outros não são ninguém,
Estou pertinho do céu.

Aníbal Raposo (foto de Gary Dorsay)

quarta-feira, janeiro 20, 2021


 










ATRAÇÃO

Montei uma máquina
p'ra reinventar
a forma precisa
de medir as forças
que atraem os corpos.

No ruir da tarde,
com uma luz fogosa
a rasgar negrumes,
dum céu pudoroso,

sonhei dois, talhados
a um teste ensaio:
- o teu e o meu.

Aníbal Raposo


 



CAL E ENGANOS 

Há porventura
Alguma criatura
Que em siso pleno
Queira o veneno
De nova ditadura?

Quem a sofreu
Jamais esqueceu
Tal amargura.
A noite escura
Em que viveu.

Falsa brancura,
De cal, em fétida sepultura. 

            Aníbal Raposo


segunda-feira, janeiro 18, 2021


 











FÁBULA DOS CAMELOS SORTIDOS
Há camelos muito espertos,
Mesmo fora dos desertos,
Grandes, contudo velados
A olhares pouco educados.
Que lançam pontes suspensas,
Feitas de ideias e crenças,
Por onde seguem, sem norte,
Camelos de menor porte.
À frente e em cima dos cujos
Vão ovelhas e sabujos.
Caminham, com ar propício,
Alegres p'ro precipício.

Aníbal Raposo


segunda-feira, janeiro 11, 2021

 














Haicai

Nas voltas da vida
Só há beleza singela
No fio de prumo.
Aníbal Raposo
(Fotografia artística de Studio Ana D'Apuzzo)