DIA DE NAMORADOS
Eu ando sempre em cuidados
P'ra agradar ao meu amor
No dia dos namorados
Dei-lhe um beijo e um regador.
Procuro viver a vida
Pacata e tranquilamente,
O que é ideia excelente,
Que não deve ser esquecida,
Se a queremos comprida.
Mas, para mal dos meus pecados,
Aos dias mui bem passados
Segue-se forte aflição.
Por uma ou outra razão,
Eu ando sempre em cuidados.
Em tempos não era assim:
Se um casal se adorava
Bastava. Não celebrava,
Neste grande frenesim,
O bento São Valentim.
Hoje, temendo o pior,
Rezei a Nosso Senhor
Que me quisesse valer.
- Meu Deus que hei de oferecer
P'ra agradar ao meu amor?
Quem não mergulha em dinheiro
Rosas oferece, encarnadas,
Colhidas pelas estradas,
Com olho e ar prazenteiro,
Naquele e noutro canteiro,
Nos velhos hipermercados,
E assim ficam descansados.
Os mais ricos, um tesouro,
Cobrem a esposa de ouro
No dia dos namorados.
Porém há mais a brilhar
Que ouro resplandecente.
Lembrei-me. Recentemente,
À escola fui plantar,
Com alunos seus a ajudar,
Ervas de cheiro, ao dispor,
Em canteiros, de primor.
Sabendo do seu agrado
E por ser apropriado
Dei-lhe um beijo e um regador.
Aníbal Raposo
Relva, 2022-02-14