sábado, abril 22, 2023

 












AJUSTES
Eu hei de sempre cantar a fluidez e a sageza
da água que corre nas ribeiras
na eterna busca da vastidão do mar,
que sabe ser mais largo e mais profundo.
A escorrência dos óleos matizados,
a explosão das cores e o retrato dos humores,
que embelezam a enorme tela da vida.
A fluência desconcertante do vento,
ora brisa suave, ora fúria erosiva,
látego cruel ou afago no rosto.
A fluidez que reside
nas transparências azul-esverdeadas
do dobrar das ondas
sobre as rochas negras de basalto.
Que me dera ter
essa capacidade de adaptação
para preencher corações
e espaços,
a tempo.

segunda-feira, abril 17, 2023




 

 


DO FADO
Negra é a cor da noite e o tom da areia
Dos castelos que, em sonhos, levantámos
Na praia. O mar, que é sábio, os apagou.
Foi transparente, porém, a imensa teia
Invisível, em que nos enredámos.
O fado desta vida a tricotou.

 


POEMA PARA A MULHER QUE PASSA

Podias ser Lianor
Pois que caminhas formosa
Pela verdura descalça. E garota de Ipanema
Já que tu és coisa linda
Tão linda e cheia de graça. Ou Rosinha dos limões
Fada de olhar feiticeiro
Com puro ar de chalaça. Mas por não saber, princesa,
Que nome te baptizou
Prefiro dizer, riqueza,
Como o poeta cantou:
Passou em delicadeza,
Uma mulher que ficou.


Aníbal Raposo