quarta-feira, dezembro 31, 2014















PASSAGEM DE ANO

Mais uma benta
Volta ao sol.

Saudemos a seguinte
Em rija festa.

Depois tiremos uma sesta
No paiol.

Relva, 2014-12-31
Aníbal Raposo

sexta-feira, dezembro 26, 2014
















ENLACE

Deus nos dê um dia
Livre, leve e lindo
De contentamento

Que brote alegria
Paz e amor infindo
Deste casamento


Relva, 2014-12-27
Aníbal Raposo

terça-feira, dezembro 23, 2014

















MENINO JESUS

Bendito Jesus divino
Tem piedade de mim...
Não devias ser menino?
Porque te mostras assim?


Relva, 2014-12-23
Aníbal Raposo




















EXISTÊNCIA

Há muito para ser pensado
Ao olhar um mar estanhado
E uma cadeira vazia.

Basta soltar os sentidos,
Abrir os nossos ouvidos
E atentar na magia:

Dos mil matizes das cores,
Do perfume que há nas flores,
Do despontar da poesia,

Do milagre da existência,
Do dom de ter consciência,
Da bênção do dia a dia.


Relva, 2014-12-23
Aníbal Raposo

segunda-feira, dezembro 22, 2014


























A TERCEIRA GEMA

como um barco triste
cujo mastro saiu
do justo prumo

assim sou eu
plantado numa praia a norte
ansiando a hora sexta
da próxima maré

Relva, 2014-12-22
Aníbal Raposo

domingo, dezembro 21, 2014





















ORAÇÃO PELA DIFERENÇA

Que seja sempre possível
Sonhar com ondas que quebram
Em mares serenos de mel

Relva, 2012-12-21
Aníbal Raposo

Foto de Mehrdad Motejalli - Irão

sábado, dezembro 20, 2014


TOCATA E FUGA

Quando vejo a ignorância
A fluir de lés-a-lés
Fico aflito, numa ânsia,
Fujo logo a sete pés.
Se vislumbro o preconceito
Na boca dum ser mesquinho
Eh rapaz, pego direito,
Raspo-me num instantinho
Meias-verdades, boatos?
Caio em atroz desespero
Dou logo corda aos sapatos
Pernas para que vos quero
Paleio de demagogo?
Cavo dali para fora
Dou às de Vila Diogo
Pego em mim e vou-me embora


Relva, 2014-12-20
Aníbal Raposo

sexta-feira, dezembro 19, 2014


REDUTO

Assim te aconselho a ser:
Coração a descoberto
Pensamento livre e aberto
Dando o que tens para dar.
Mas se quiseres ser arguto
Deixa um pequeno reduto
Onde podes aceder
E ninguém mais deve entrar.

Relva, 2014-12-19
Aníbal Raposo

Foto de Elliott Erwitt

quinta-feira, dezembro 18, 2014





















ABALADAS

Quando apronto a mala para partir
Dou sempre pela gaivota do costume
Nela poisada. Tranquilamente
Disposta a largar comigo.

Relva, 2012-12-18
Aníbal Raposo

Foto de Anka Zhuravleva

sábado, dezembro 13, 2014
















RELÓGIO

Na minha velha parede
tenho um relógio. Os ponteiros
rodam sempre tão ligeiros
que não sei se o tempo mede.
E aqui quero confessar
uma estranha sensação:
na mecha louca a que vão
não os consigo enxergar.

Saudades tenho. Obcecado,
não me vejo a decidir,
se dos dias que hão de vir
se do que já foi gozado.
Vivo pois neste esconjuro
de saber, tempo malvado,
se corres para o futuro
se voas para o passado.

Relva, 2014-12-13
Aníbal Raposo

sexta-feira, dezembro 12, 2014



DO SABER OUVIR

Há gritos lancinantes
amordaçados
nos silêncios
cúmplices.


Relva, 2012-12-12
Aníbal Raposo

quarta-feira, dezembro 10, 2014

JINGLE BELLS

Nadam uns tantos na fartura.
Apertam outros a cintura.
Talvez surja uma desordem,
Até é justo que acordem.
Ladram para quê se não mordem?

Relva, 2012-12-10
Aníbal Raposo

quinta-feira, dezembro 04, 2014

























CORPOS CELESTES

Enquanto céus puder edificar
Hei de plantar luas de prata em mares azuis safira
Semearei estrelas em prados infinitos
E desenharei anéis, cheios de brilhantes,
Para fazer notar, como é devido,
Os corpos celestes.

Relva, 2014-12-04
Aníbal Raposo

quarta-feira, dezembro 03, 2014

Cais


























CAIS

Tanto a contar
das chegadas

alegres...
amarguradas...

Mais a dizer
das partidas

sonhadoras...
tão sofridas...


Relva, 2014-12-03
Aníbal Raposo

Foto de Amanda Cass

terça-feira, dezembro 02, 2014




















CASOS

Atenta
Meu menino lindo
Nesta minha história.

Mais tarde,
Quando a contares,
Estarei contigo.

Há sabores de açúcar
Na memória.

Relva, 2014-12-02
Aníbal Raposo

Pintura de Roberto Chichorro

domingo, novembro 30, 2014




















INTERROGAR COM ARTE

Reconheço
humildemente
a minha pequenez.

Mas será
que a minha alma
cabe aqui?

Relva, 2014-11-29
Aníbal Raposo

sábado, novembro 29, 2014



DERVICHES

Poesia,
música,
dança,
e humildade

no rodopio
do mundo. Uma via
para sondar a divindade.

Relva, 2014-11-29
Aníbal Raposo

Foto de Celil Advan 

quarta-feira, novembro 26, 2014



















ENTRETANTO

Hei de cantar-te tanto
Meu encanto
E quero que o meu canto
Que em ti planto
Arda de desplanto
Em puro espanto

Relva 2014-11-26
Aníbal Raposo

Pintura de Roberto Chichorro 
























ITINERÁRIOS

Vou na carruagem
que navega nestes trilhos.

No fim da viagem
garantem-me uma meta.
Que lá chego.

Aonde?
Quero?

Relva, 2014-11-26
Aníbal Raposo

Foto: Dmitry Doronin
Road to nowhere

sexta-feira, novembro 21, 2014



FRAGILIDADES

Frágil é o riso que desponta
Frágil a palavra no poema
Frágil a vaidade sempre tonta
Frágil a arrogância que dá pena

Frágil é o rebento da cana
Frágil a flor do maracujá
Frágil uma ideia em mente insana
Frágil quem amores exaltará

Frágil quem não sabe onde dormir
Frágil o fio que tece a aranha
Frágil quem se fica no carpir
Frágil todo aquele que se amanha

Frágil é a vida a cada hora
Frágil porque certa é mesmo a morte
Frágil o quem tem sorte caipora
Frágil quem se tem por muito forte

Frágil é um rio impetuoso
Frágil porque se humilha no mar
Frágil todo o ser que é venenoso
Frágil que a peçonha o vai matar

Frágil é a onda quando quebra
Frágil no baixio a rebentar
Frágil é aquele que celebra
Frágil porque um dia vai chorar

Frágil quem não tem rumo nem norte
Frágil é aquele que se ufana
Frágil o fraco que se acha forte
Frágil é a natureza humana


Relva, 2014-11-21
Aníbal Raposo

quinta-feira, novembro 20, 2014



















DA DÚVIDA

Existe um velho ditado que encerra
uma verdade que de tão evidente,
que é, ninguém a contesta nem desmente:
o que nada faz, esse nunca erra.

Cabe ao homem bater-se nesta guerra
das coisas bem fazer, é bom que tente.
E contudo é errando aqui na terra
que se aprende e se dá o salto em frente.

Bem conhecemos muito convencido
que é dono da verdade, anda iludido,
não duvida, nem se pode enganar.

P'ra mim este é assunto resolvido.                                  
Posso dizer-vos: muito mais duvido
do que se gaba de não duvidar.


Relva, 2014-11-20
Aníbal Raposo

sábado, novembro 15, 2014




CASA

Sonhei,
ao pormenor,
a tua génese.

Povoaram-te risos,
versos de amor
e flores de esperança.

Vi-te a escoar
no vazar da maré,
quando o escuro da noite
pintava o fundo da minha alma.

Mas veio o sol de novo
e inundou-te as salas, de música,
de gargalhadas límpidas,
delicadezas de orquídeas
e cheiro a tangerinas.

De quando em vez
oiço o som das asas
dos pássaros fiéis que, no regresso,
esvoaçam felizes no teu ventre.

Testemunha muda
do tempo.

Palco iluminado
onde, a cada dia, vai à cena
a peça das nossas vidas.


Relva, 2014-11-15
Aníbal Raposo
  

PhotoAllegory of Sarolta Bán

sexta-feira, novembro 14, 2014

























PANEM ET CIRCENSES

Ao invés
da receita romana
de então

Hoje há circo
a rodos

Falta é pão


Relva, 2014-11-14
Aníbal Raposo

Foto Laurent Chehere
Flying Circus
in "A Lifetime Photography"

sábado, novembro 08, 2014



















O SÍTIO ONDE ME ENCONTRO E SEI DE MIM

Por verdade ser, quero declarar
Que num mundo atulhado de vaidade
Resta um lugar bendito junto ao mar
Onde se partilha pão e amizade.

Um sítio, de homens livres no voar,
Onde tu és tu mesmo de verdade,
Não tens de te vender ou mascarar,
Não conta a condição nem conta a idade.

Ali me escondo eu sem ser cobarde
Dizendo muitas vezes sem alarde
Que bom meu Deus viver dias assim.

Sempre que o sol se acende ao fim da tarde
O coração no peito também arde.
É na fajã que me encontro e sei de mim.

Relva, 2014-11-08
Aníbal Raposo

quinta-feira, outubro 23, 2014





















AO CAIR DAS FOLHAS

Nesta longa espera
pelo invernal solstício,
sinto sempre o mundo
no tem-te-não-caias.
junto ao precipício.


Relva-2014-10-23
Aníbal Raposo


Foto de Mikael Raymond
in "A lifetime photography"

segunda-feira, outubro 13, 2014


CAIS DAS COLUNAS

Janela indiscreta
Para o fim do mundo
Aurora e sol-posto
Do saber profundo

Da linha da vida
Do vento e da calma
Entrada do templo
Do sábio com alma


Relva, 2014-10-13
Aníbal Raposo

(foto de Artur Pastor)

sexta-feira, setembro 12, 2014

Dia de azar





















DIA DE AZAR

De que me serve carpir
a parca sorte
quando sobre mim desaba
o mundo inteiro?

Vou é vestir-me de risos,
assobiar ventos do norte.
Viver cada segundo
como se fosse o derradeiro.

Relva, 2014-09-12
Aníbal Raposo

Em dia de cancelamento de concerto por motivos metereológicos

sábado, setembro 06, 2014





















JOGOS DE LUZ

E tu que queres?

Há sítios de luz,
e zonas mais discretas.

Mulheres,
relógios
e espirais do tempo
onde poisam borboletas.

Relva, 2014-09-06
Aníbal Raposo 


Foto de Patrick Gonzales
in "A Lifetime Photography"

sábado, agosto 02, 2014




ALVO

O meu maior sonho,
(Quem nunca sonhou?)
É pisar o fundo do poço que sou.


Relva 2014-08-03
Aníbal Raposo

quarta-feira, julho 30, 2014



















EXPLOSÕES

Sabes, não estou a mentir,
Se pegarmos fogo os dois
O mundo pode explodir
Só num puxar de lençóis.

Relva, 2014-07-30
Aníbal Raposo

sábado, julho 12, 2014





















LIVRE

Adoro saltar assim:
Para o nada.

Testar
Se estas velhas asas
Ainda conseguem suportar
O peso estimado para os meus devaneios.

Por vezes, é curto o voo.
Caio no chão sangrando, estatelado.

Outras, porém,
Flutuo livremente, ante olhares incréus,
Desenhando círculos por cima dos telhados da cidade.


Relva, 2014-07-12
Aníbal Raposo


sexta-feira, julho 04, 2014













FUTEBOL

No desfecho feliz que se deseja
Não podendo ser um que o outro seja.

Relva, 2014-07-04
Aníbal Raposo






















BRINCOS DE PRINCESA

Em cada um dos dias, meu amor,
Lembrar-me-ei de ti com uma flor.

Hoje, para louvar tua beleza,
Inventei este brinco de princesa.


Relva, 2014-07-04
Aníbal Raposo

Foto de Mandy Disher in "A lifetime photography"

quinta-feira, julho 03, 2014

O ponto justo


















O PONTO JUSTO

Envolver-te primeiro, sem fazer alarde
Com o coração em fogo, brasa incandescente,
Depois beijar-te a alma, fundo, intensamente,
Oferecer-te rosas ao cair da tarde.

Vamos amar-nos soltos, libertos, sem mágoas,
Soltando cada amarra em jeito singular
Eu, rio arrebatado, ansiando em ti o mar
Morrer no justo ponto da fusão das águas.


Relva. 2014-07-03
Aníbal Raposo

quarta-feira, julho 02, 2014



CORAGEM

Com estes dedos
Vou tocar os credos
Apesar dos medos


Relva, 2014-07-02
Aníbal Raposo

terça-feira, julho 01, 2014


























NAVEGANTE

Sempre que embarco
No canto dos pássaros
Ramifico anseios
Na prata da lua

Relva, 2014-07-01
Aníbal Raposo

sexta-feira, junho 27, 2014















FIM DE SEMANA

Um riso novo a estrear
Um jardim para regar
Um trilho para explorar
Um peixe para pescar
Umas lapas p'ra apanhar
Uma plantas p'ra tratar
Um vinho para provar
Um céu enorme p'ra olhar
Um livro p'ra devorar
Uma canção p'ra cantar
Amigos p'ra conversar
Um beijo p'ra degustar
Umas velas pr'a enfunar
Um mar para navegar
Mil sonhos para sonhar.

Relva, 2014-06-27
Aníbal Raposo

sexta-feira, junho 20, 2014
















A ESCADA

Não sei em que patamar estou.
Pouco me interessa.

Quero alegrar-me
Em cada degrau a que me guindo.

O fim da escalada
É mergulhar na luz
Dum infinito e desconhecido azul.


Relva, 2014-06-20
Aníbal Raposo

terça-feira, junho 17, 2014














A FUGA

Um guarda-chuva é bom para abrigar,
Manter a calma e amenizar o clima.
Mesmo que estejamos prestes a levar
Com um bocado de céu velho em cima.

Relva, 2014-06-17
Aníbal Raposo

quarta-feira, maio 28, 2014











BUROCRATAS

Aqui venho verter
de forma bem sentida
a minha mágoa.

Há tipos cujo mister
é encrencar-nos a vida.
Pôr-nos a cabeça em água.

Pim!

Relva, 2014-05-28
Aníbal Raposo

domingo, maio 25, 2014
















DECISÕES

Decide
Mas com cautelas.

Preferes grades?
Janelas?

Relva, 2014-05-25
Aníbal Raposo

Foto de Manuel Cosentino, Itália 

quinta-feira, maio 08, 2014

quinta-feira, abril 24, 2014















25 DE ABRIL

O pó tu podes morder
Tratado abaixo de cão
Mas ninguém pode conter
A força que é na razão

Relva, 2014-04-24
Aníbal Raposo


terça-feira, abril 22, 2014




















TERRA

É dom de poucos
Ter uma casa e residir,
No meio do universo.
Linda e azul, amigo.

Mau grado os loucos
Que nos procuram conduzir
Ao destino perverso,
De párias sem abrigo.

Relva, 2014-04-22
Aníbal Raposo

domingo, abril 20, 2014
















PÁSCOA

A luz
Tomou o lugar
Da noite de breu.

Jesus,
Ao ressuscitar,
A morte venceu.

Relva, 2014-04-20
Aníbal Raposo

sexta-feira, abril 04, 2014



ROMEIROS

Esta madrugada
Vamos regressar
Aos trilhos sagrados.

Uma luz no peito,
E o canto na boca.
Partimos alegres
Na fé irmanados.

Ao terceiro dia
Estamos desligados.

Com a alma limpa
O corpo flutua
Sobre os pés cansados.

  
Relva, 2014-04-04
Aníbal Raposo

quinta-feira, abril 03, 2014

AXIS MUNDI


















No fundo da espiral
Dos nove patamares
Prostrado na rosácea,
Por sobre a cruz do templo,
Busquei a harmonia
No útero da mãe terra.

Mais tarde,
Das entranhas do poço,
Esvoacei para o céu.

Relva, 2014-04-03

Aníbal Raposo

quarta-feira, abril 02, 2014



















PORQUE AMO AS ÁRVORES

Abrigam voos
Guardam o tempo
Crescem ao céu
Morrem a prumo

Relva, 2014-04-02
Aníbal Raposo

quinta-feira, março 20, 2014















AEQUUS NOX

Trevas e luz
num fugaz equilíbrio.

O sol acaricia o ventre da terra
grávida dum mar de flores.

Na terra de Nemésio
chove que se farta.

Bem-vinda,
doce primavera!


Praia da Vitória, 2014-03-20
Aníbal Raposo

quarta-feira, março 19, 2014


























PAI

Espera por mim meu pai
Na esquina dum não sei onde
Que já não deve faltar muito
Para nos abraçarmos.

Sabes,
Preciso ter contigo
Aquela conversa urgente
Que os dois sempre adiámos
E acabámos por perder.

E nesse nosso encontro
Não quero mais silêncios
Nem decifrar palavras
No fundo do teu meigo olhar.

Meu querido pai,
Vais-me desculpar
Mas dessa vez
Não deixo!


Relva, 2014-03-19
Aníbal Raposo


Foto de Massimo Di Cresce
in "A lifetime photography"