segunda-feira, dezembro 28, 2015


















DO RELEVO DA COR

Se há coisa
que sempre
me contenta

é devolver
o verde e o viço
à massa amorfa,

defunta de cinzenta.

Relva, 2015-12-03
© Aníbal Raposo


















CAÇADOR DE LUAS

Sou um furtivo
caçador de luas.

Consegues ver
um mar de prata
nos meus olhos?


Relva, 2015-12-28
© Aníbal Raposo

quarta-feira, dezembro 23, 2015
















UM OLHAR DENTRO DE MIM

Tenho vivido absorto, alegremente.
O tempo flui de forma displicente,
E a vida é curta, deve ser vivida.

Neste pisar de palco permanente
Digo p’ra mim, de forma consciente:
- Não há farsa maior que a minha vida.

Se chorar quero, rir, ou admirar-me
A Deus dar graças, reconciliar-me,
Comigo: Oro - a prece é um fortim.

Sempre que me pondero e me aprofundo,
E me apetece escarnecer do mundo,
Não tenho mais que olhar dentro de mim.

(Refletindo sobre um texto de António Vieira)

Relva, 2015-12-23
© Aníbal Raposo


sábado, dezembro 05, 2015










ANIVERSÁRIO

Neste dia peço a Deus
Que me brinde com a sorte
De ter o amor dos meus

De nunca perder o norte
E conservar o juízo,
O bem de que mais preciso,
Até à hora da morte.

Relva, 2015-12-05
© Aníbal Raposo

quinta-feira, novembro 12, 2015


























A CHAVE DO TEMPO

Há uma chave do tempo
para cada existência.

Se a conseguires encontrar
transformas, como por magia,
um breve segundo
numa eternidade.

Relva, 2015-11-12
© Aníbal Raposo

Foto: Caras Ionut

segunda-feira, outubro 26, 2015

A pintura dos sons

















Pinto de cores distintas os sons
da minha vida. É uma forma simples
de a encher com flores.

Relva 2015-10-26
Aníbal Raposo

sábado, outubro 24, 2015



DESAFIO

Como libertar
a complexidade
que mora em cada sentimento
da penosa contenção que há na palavra?

É este,
de modo simples,
o enorme desafio do poeta.

Relva, 2015-10-24
Aníbal Raposo

segunda-feira, maio 25, 2015














NO DIA DOS AÇORES
Cobre-nos com a Tua asa,
Deus, língua de fogo ardente,
Criador de maravilhas.
Abençoa a nossa casa,
Ilumina a nossa mente,
E protege as nossas ilhas.

Relva, 2015-05-25
Aníbal Raposo

quinta-feira, maio 14, 2015












PORQUE CANTO

Canto.
E é impossível
prender a minha voz
nas correntes de aço
duma tendência qualquer.

Nasceu sem amos,
viverá sempre liberta
e livre partirá
quando este mundo,
fatalmente,
a esquecer.

Relva, 2015-05-14
Aníbal Raposo

sexta-feira, abril 24, 2015


















VELEIRO MEU

Lavra-me este mar
Enche-me os panos
Que o sonho é navegar
Por mais uns anos

Relva, 2015-04-23
Aníbal Raposo

quinta-feira, abril 23, 2015




















AMANTES

Deito-me contigo todos os dias
Em lúbricas relações vadias
Fogosas, delirantes.

Não te concebo etéreo.
Gosto de apalpar-te,
Sorver-te, degustar-te,
No lume dos amantes.

Relva, 2015-03-23
Aníbal Raposo

sábado, abril 11, 2015

Das fronteiras


















DAS FRONTEIRAS

Ah essa mesquinha morbidez
De interpor barreiras
E de erguer fronteiras
Escusadas.

Quem dera, ao invés, a sensatez,
De inventar clareiras
No inclinar de todas as bandeiras
A novas madrugadas.

Relva, 2015-04-11
Aníbal Raposo

segunda-feira, março 16, 2015

























LEVITAÇÃO

Se existe coisa
que gosto, que aprecio,
que é arte irreverente
e eterna novidade,

é ver alguém
dançar, num desafio
ao corpo, à mente
e às leis da gravidade.

Relva, 2015-03-16
Aníbal Raposo















PRIMAVERA


Há trilhos sinuosos,
e ruas desta ilha,
esperando Ave Marias.

Um cheiro adocicado,
familiar e espesso,
nas flores de cada incenso.

Rebentos verdejantes,
que explodem pelos ramos
na pressa de nascer.

Angústias aos milhares
que aguardam o consolo
de orações penitentes.

E há um fogo aceso
no olhar de cada irmão
que anseia a caminhada.

Relva, 2015-03-16
Aníbal Raposo

sábado, março 14, 2015





















DOÇURA


Loucura de prazer
Subir aos céus
Sem pressa. A sorver
O mel dos lábios teus.

Relva, 2015-03-14
Aníbal Raposo

foto de Max Lofti 

sexta-feira, março 13, 2015

Da alma

















DA ALMA
Sabes o que penso:
Somos tão pequenos...
Digo-te com calma.

Cada vez me convenço
Mais, que somos menos
Corpo do que alma.

Relva, 2015-03-13
Aníbal Raposo

(No dia em que abalou a esposa e a mãe de dois irmãos meus)

sexta-feira, fevereiro 27, 2015

quinta-feira, fevereiro 26, 2015















GUITARRA

Toco-te
e de cada vez que o faço
tenho a sensação intensa e leda
de inaugurar uma manhã
bela e radiosa.

Abraço-te
como quem cinge
um corpo delicado,
e estreia uma paixão
novinha em folha.

Relva, 2015-02-26
Aníbal Raposo

terça-feira, fevereiro 24, 2015

Um breve instante


























UM BREVE INSTANTE

Já toquei a linha do esquecimento
tendo aprendido o sentido primeiro
desta vida: fruir cada momento
porque ele é singular e derradeiro.

Relva, 2015-02-24
Aníbal Raposo

domingo, fevereiro 22, 2015

O cais das sete partidas

























O CAIS DAS SETE PARTIDAS

Ler bons livros é largar
Do cais das sete partidas
E em escassos momentos
Conseguir reencarnar
Somando conhecimentos
Dum mar de vidas vividas.

Relva, 2015-02-22
Aníbal Raposo

sexta-feira, fevereiro 20, 2015

Abrigo


























ABRIGO

Com céus de breu
venha um chapéu,
um ombro amigo.

Nada melhor
do que dispor
dum bom abrigo.

Relva, 2015-02-20
Aníbal Raposo

sábado, fevereiro 14, 2015















DIA DE SÃO VALENTIM

Querida Helena,
Hoje não vale mesmo a pena,
é dia adverso.

Amanhã,
pela manhã,
faço-te um verso.

Relva, 2015-02-14
Aníbal Raposo
















ENTRUDO

No Carnaval consigo apreciar
danças de espada,
bailinhos,enredos,
fantasias.

Desagrada-me dançar com multidões.
Na turba há qualquer coisa
que tolhe o pensamento.

Não prezo também
os dias de.
Nem que me prometam festa
p'ra me calcarem calos.

Quando me apetece chorar, choro.
Se me apetece rir, rio.
Quando e se.

Não me embriago
de Entrudos.

Basta-me o Carnaval
de cada dia.

Relva, 2015-02-14
Aníbal Raposo

sexta-feira, fevereiro 13, 2015

























CONSTRUTORES DE CATEDRAIS

Há quem erga catedrais
sobre as falésias, junto ao mar.
As torres buscando os céus.

Sábios pedreiros.

Sede de luz!
Da voz de Deus!

Relva, 2015-02-13
Aníbal Raposo














DA SIMPLICIDADE

Mas que vista tão singela:
- uma árvore e uma capela.

Numa ramos p'ra poisar
Noutra paz para rezar.

Ali estão sem sobressalto
Apontam ambas ao alto.


Relva, 2015-02-13
Aníbal Raposo

quinta-feira, fevereiro 12, 2015





















PAZ PODRE

(Leitura possível duma fotografia)

Houve alguém que suspendeu
usando de arte secreta
o fluir da areia fina
no gargalo da ampulheta.

Quem muita vida viveu
e lê os sinais da sorte
duma completa acalmia
só espera um sismo forte.

O artista e o contrabaixo,
vivem enorme paixão.
Tensões fortes e latentes
dividem o corvo e o cão.

Entre o artista e o corvo
vão só uns metros de chão.
Entre o perro e o instrumento
não se alcança ligação.

Há um contrabaixo e um corvo
mas não há magia, não.
Vejo um cão e um artista
mas não se nota afeição.

A ruína e o poeta
partilham a inquietação.


Relva, 2015-02-12
Aníbal Raposo

AVERSÕES E AFETOS

Nunca gostei de correntes
Abomino cadeados
Prezo as almas transparentes
Amo anseios libertados

Relva, 2015-02-12
Aníbal Raposo

terça-feira, fevereiro 10, 2015






















DOS SIGNOS

Pelo dia e mês
final e derradeiro
em que ao mundo cheguei
sou por metade gente:
- um rijo arqueiro
que envolto em feroz halo,
viril empunha o arco,
atira aos céus a flecha
e logo segue lesto.
No resto
sou cavalo...

Pelo ano, porém,
e pelo sinete que advém,
do velho e sino signo,
de pronto me resigno:
sou ginete...

Nascido Sagitário
já me juram que os astros
guardaram só bondade
para a minha criatura:
- ser positiva e sincera,
amar a liberdade,
gostar de viajar
prezar uma aventura.

Porém, de quando em vez,
vejo-me a erguer a espada.
Sem que haja um bom motivo,
atiro uma patada
e ponho-me ao estalo.

Isso é pouco cortez.
Admito ser errado.
Mas logo retratado,
a contrição rezada,
pisado sobrevivo.

Reajo assim, emotivo,
e falho por ser gente.
Mas gosto de estar vivo.
Possuo sangue quente,
e dois signos de cavalo...

Relva, 2015-02-10
Aníbal Raposo

segunda-feira, fevereiro 09, 2015















UM VELEIRO NOS TRÓPICOS

Um veleiro nos trópicos buscando ternas angras.
A sensual beleza dum corpo de mulher.

A lasciva humidade que atiça a fantasia.
A tumidez da carne, em gritos de clausura,  
Velada em escassos véus num jogo de adivinhas.

As narinas abertas, ansiando odores dementes.
Um vulcão incontido, a erupção prevista.


Relva, 2015-02-09
Aníbal Raposo

sábado, fevereiro 07, 2015
























DA ARTE DA PODA

Como pensar conter
o poder do raciocínio?


As ideias
são como ramos novos
que brotam irreverentes
nas erupções da mente,
perene árvore do espanto.

Bem sei
que sempre hão de existir
inquisidores de serviço,
de pena e foice em riste.

Gente que domina e aprecia
a afiada e bem retribuída arte do sufoco.

Mas para o bem
do equilíbrio universal,
há sempre ideias-ramos que resistem:
- À fúria das mentes castradoras.
- À cegueira das tesouras de podar.

Relva, 2015-02-07
Aníbal Raposo

sexta-feira, fevereiro 06, 2015



ARCO DE TRIUNFO

Por que razão
é celebrada
a glória em arco?

Para lembrar
como é fugaz,
e em breve cessa?

Nasce no chão
aponta ao céu,
e ao chão regressa...

Relva, 2015-02-06
Aníbal Raposo

quinta-feira, fevereiro 05, 2015














TONS
Entre o que é preto e branco,
moram cinzentos vários.

O tempo é sábio. Revela gradações
diversas em firmes certezas.

Gosto de pensar
que, numa vida repleta de sons,
consegui distinguir fortes mudanças
escondidas em quartos de tom.

Relva, 2015-02-05
Aníbal Raposo

















DA PARTIDA

Não conheço as coordenadas
do lugar para onde vou.

Nem vos posso assegurar
a hora em que o farei,
mas sei que vou partir.

Conforta-me a ideia
de ter um cais por perto.

É avisado ter a alma
pronta, no içar das velas.

Rezo para se faça com mar chão.


Relva, 2015-02-05
Aníbal Raposo

segunda-feira, fevereiro 02, 2015



















DOS PAVÕES

A coisa que mais odeio
É ver uma besta quadrada
Que se exibe em  pavoneio
Pisando terra queimada.

Relva, 2015-02-02
Aníbal Raposo

sexta-feira, janeiro 30, 2015






















DO EQUILÍBRIO  (III)

Como é difícil ter rumo
Princípios, honra, decência
Manter o fio de prumo
No mundo da concorrência

Relva, 2015-01-30
Aníbal Raposo






















DO EQUILÍBRIO (II)

Por vezes não é viável
A meta tão perseguida
De obter o equilíbrio instável
No monociclo da vida

Relva 2015-01-30
Aníbal Raposo



DO EQUILÍBRIO

Falar é fácil, caramba,
Difícil mesmo, meu irmão,
É viver na corda bamba
Sem dar com os burros no chão.

Relva 2015-01-30
Aníbal Raposo

quinta-feira, janeiro 29, 2015












DA PINTURA

Vou dizer-vos com franqueza
Esta vida é um papel
Onde dou cor à tristeza
Com a ponta do meu pincel

Relva, 2015-01-29
Aníbal Raposo

terça-feira, janeiro 27, 2015













GUITARRA

Cordas da minha guitarra
Seis irmãs de trato fino
É nelas que se desgarra
A certeza do destino

Relva, 2015-01-27
Aníbal Raposo

domingo, janeiro 25, 2015












HELÉNICOS

Com os gregos a decidir
Entra a Europa em alvoroço.
P'ra onde pode cair
Quem está no fundo do poço?

Relva, 2015-01-25
Aníbal Raposo


CHUVADAS E ROSAS BRANCAS
(Santa Maria à vista, água na crista)

E veio a água bendita
da ilha irmã que avistei.

Matou a sede à roseira
branca, linda companheira,
que ontem mesmo plantei.

Relva, 2015-01-25
Aníbal Raposo

sábado, janeiro 24, 2015


















DO ENGENHO

A mãe natureza
Tem astúcias mil
Espalha sementes
De forma subtil

Que possamos todos
De forma singela
Espalhar o bem
Aprender com ela.

Relva 2015-01-24
Aníbal Raposo 






















TANGO

Dançam lua e sol na pista dos sentidos
Cheira a erotismo, sons à flor da pele
Há um tango em chamas, fogo que os impele
À fusão dos corpos, tontos de perdidos.

Relva, 2015-01-24
Aníbal Raposo  

sexta-feira, janeiro 23, 2015



















DOM QUIXOTE

Enquanto houver forças, lança e armadura
Vou ser cavaleiro de triste figura.
Tomarei castelos, de velas ao vento
Por ti meu amor, meu precioso alento.

Inoportuno herói, procuro impossíveis,
O bem absoluto, porque sou propenso
A buscar quimeras, mesmo inatingíveis
Não concebo existir atado ao bom senso.


Relva, 2015-01-23
Aníbal Raposo

quarta-feira, janeiro 21, 2015




















GATOS

Gosto dos meus gatos.
Andam sempre à solta. Reis da liberdade.
Têm sete vidas. Se caem é de pé e com dignidade.
Olhos curiosos. Instinto apurado. Muita inteligência.
Sendo seres altivos baixam a acidez da minha existência.


Relva, 2015-01-21
Aníbal Raposo

Foto de Aitor Rioja

sábado, janeiro 17, 2015













DA LEITURA

Se me ponho a ler
Vão-se os meus cuidados.

O sonho dá-me asas,
Plano sobre as casas,
Abanco em telhados.

E percebo pontes,
Descubro horizontes
Morosos de ver.


Relva, 2015-01-18
Aníbal Raposo

Foto de Yana Bobrykova


















DE NOVO A ESTRADA

Já vou de romeiro, que é bom caminhar
Já rezo na estrada, já posso pensar:
P'ra quê tanta proa, porquê tantos medos
Se a vida se esvai num estalar de dedos?

Relva, 2015-01-17
IR Aníbal Raposo

sábado, janeiro 10, 2015











IRMÃOS

Um Raul e outro Jorge,
Saídos do mesmo alforge,
Santos à sua maneira.
Tecem-me os sons nesta lida.
Dois irmãos meus, dois romeiros
Gente boa, companheiros.
Um é anjo de ladeira
Ao outro devo-lhe a vida.

Relva, 2015-01-10
Aníbal Raposo

Singela homenagem a duas almas singulares.














CAFÉ

Sei bem quem és, meu amigo
Que te cuido na fajã
Podes crer que não consigo
Passar sem ti, de manhã

Divino aroma, alegria
Sabor que me põe desperto
No desafiar do dia
Com vigor, de peito aberto

Relva, 2015-01-10
Aníbal Raposo