quarta-feira, dezembro 31, 2008


SETE


São sete as colinas

De Roma, a cidade.

Sete são as notas

Do som da amizade.

 

As cores são sete

Que o prisma refracta.

São sete os pecados

E um pastel de nata.

 

São arcanjos sete

De Deus impoluto.

E sete é também

O número absoluto.

 

As constelações

São o sete-estrelo.

O templo sagrado

Sete anos a tê-lo.


Sete são os Chacras 

Entéricos, um mito?

Seth, irmão de Osíris

Foi Deus do Egipto.


Sete são os selos

Do livro, proféticos.

Sete sacramentos.

Princípios Herméticos.


Sete belas artes

Na mesma procura.

Sete palmos tem

Cada sepultura.


Os deuses no Olimpo

Sete formas são.

Os planos são sete

Da evolução.


Sete as maravilhas:

O mundo se ufana.

Sete são os dias

De cada semana.


São sete as virtudes

São sete verdades?

Há muitos caminhos 

P'rás Sete Cidades.


Ponta Delgada, 2008-12-31
Aníbal Raposo

domingo, dezembro 28, 2008



O TÚNEL DE LUZ

(dedicado ao meu amigo Fernando Loura)

o quarto
a penumbra
a alva colcha
a cama.

o rosto magro
de cera
agonizando
sem medo.

a angústia
estampada
na cara
dos que esperam.

o respirar
pausado
forçado
sibilante

o silvo
forçado
descompassado
o respirar.

subitamente
a pausa...

o desfecho
agora?

de novo
o silvo
forçado
pausado
o respirar
telúrico
ofegante

outra vez
a espera...

a noite 
imensa
eterna
sem sono

a resignação
há muito
substituiu
o desespero.

a atenção
ao respirar
a pausa
de novo

agora?

segundos-horas...

por fim
o túnel
a luz
a paz.

a lágrima 
derradeira
salgada
lambida
na face
dos que
ficaram.

o início
continuação
da saudade.

Aníbal Raposo
2008-12-28


Alguns dos meus poemas vão ser editados, pela primeira vez, numa colectânea de novos poetas. O livro, que terá por título "Entre o sono e o sonho - Antologia de poetas contemporâneos", resulta dum concurso levado a efeito pelo Portal Lisboa e será publicado pela Chiado Editora.

Para mim, pouco habituado a estas coisas (sou mais ligado ao lançamento do disco), é uma alegria que quero compartilhar com os leitores do meu blog. Não faço ideia de quem serão os meus companheiros nesta aventura.

A apresentação da colectânea será feita, em princípio, no dia 31 de Janeiro, sábado, no bar Onda Jazz, em Lisboa.
 
Apareçam se tiverem tempo e se sentirem pachorrentos.

Vai ser sábado para mim.

terça-feira, dezembro 23, 2008

domingo, dezembro 21, 2008



CANTIGA DO SILÊNCIO


O silêncio é como uma agonia

Lentamente nos consome e faz sofrer

Meu amor, minha doce fantasia

Não me deixes de silêncio ensurdecer


Diz-me coisas banais, do dia-a-dia

Diz-me coisas nem que seja por dizer

Meu amor, minha doce fantasia

Não me deixes de silêncio ensurdecer


No silêncio pode haver certa poesia

A que a palavra dá corpo e faz crescer

Meu amor, minha doce fantasia

Não me deixes de silêncio ensurdecer


Aníbal Raposo

1982   

sexta-feira, dezembro 19, 2008



MENSAGEM DE NATAL

Meu menino Deus,

Cuida de todas as criaturas
que habitam este lindo planeta azul. 

Faz a humanidade dar um passo em frente:
Que haja Pão, Justiça e Paz
Para toda a gente.

Amen.


Um Santo Natal para todos os leitores amigos.

Ponta Delgada, 2008-12-19
Aníbal Raposo

quarta-feira, dezembro 03, 2008



CORRO RISCO

Corro.
Para quê?
Não derreteu Dali os relógios,
Tirânicos guardiães do tempo?
Para quê?
Se amanhã, quando renascer como árvore,
Vou abrigar os pássaros sempre que o sol cair.

Risco
Palavras,
Muitas, sem nexo.
Gostaria de riscar projectos de catedrais
Cujos pináculos rasgassem 
As nuvens que te ensombram a alma.  

Corro risco,
De não te saber amar
Com a fúria dum ciclone de Setembro.
Com a calma espelho d' água das lagoas.


Ponta Delgada, 2008-12-05
Aníbal Raposo

segunda-feira, dezembro 01, 2008



DA VAIDADE HUMANA
(VANITAS VANITATUM, ET OMNIA VANITAS)

É sempre junto ao mar,
perto da sua bela e incomensurável superfície azul,
que o meu turbulento espírito encontra a paz.

Só de o olhar descanso,
assim, como se entrasse de repente,
num reconfortante e sedativo sono.
Retempero-me logo do violento esforço que despendo
para resistir à sucção voraz do cavado vórtice
da vivência frenética, estúpida, sem sentido,
para onde a turba me impele, dia-a-dia.
 
É, também, no escuro da noite,
na pacatez do terraço da minha casa da fajã,
que mantenho o saudável hábito de sonhar acordado.

Às vezes, 
reclinado na minha cadeira de repouso, 
imagino que piloto a terra-nave,
e a levo a sondar cada luzeiro
que habita a imensidão dum céu de Agosto. 

Nessa minha viagem faz-de-conta,
perdido, algures, nos confins do universo, 
consigo ponderar, com fina exactidão, 
a minúscula, a ridícula pequenez
da futilidade humana. 

Ponta Delgada, 1 de Dezembro de 2008
Aníbal Raposo