sexta-feira, janeiro 30, 2015






















DO EQUILÍBRIO  (III)

Como é difícil ter rumo
Princípios, honra, decência
Manter o fio de prumo
No mundo da concorrência

Relva, 2015-01-30
Aníbal Raposo






















DO EQUILÍBRIO (II)

Por vezes não é viável
A meta tão perseguida
De obter o equilíbrio instável
No monociclo da vida

Relva 2015-01-30
Aníbal Raposo



DO EQUILÍBRIO

Falar é fácil, caramba,
Difícil mesmo, meu irmão,
É viver na corda bamba
Sem dar com os burros no chão.

Relva 2015-01-30
Aníbal Raposo

quinta-feira, janeiro 29, 2015












DA PINTURA

Vou dizer-vos com franqueza
Esta vida é um papel
Onde dou cor à tristeza
Com a ponta do meu pincel

Relva, 2015-01-29
Aníbal Raposo

terça-feira, janeiro 27, 2015













GUITARRA

Cordas da minha guitarra
Seis irmãs de trato fino
É nelas que se desgarra
A certeza do destino

Relva, 2015-01-27
Aníbal Raposo

domingo, janeiro 25, 2015












HELÉNICOS

Com os gregos a decidir
Entra a Europa em alvoroço.
P'ra onde pode cair
Quem está no fundo do poço?

Relva, 2015-01-25
Aníbal Raposo


CHUVADAS E ROSAS BRANCAS
(Santa Maria à vista, água na crista)

E veio a água bendita
da ilha irmã que avistei.

Matou a sede à roseira
branca, linda companheira,
que ontem mesmo plantei.

Relva, 2015-01-25
Aníbal Raposo

sábado, janeiro 24, 2015


















DO ENGENHO

A mãe natureza
Tem astúcias mil
Espalha sementes
De forma subtil

Que possamos todos
De forma singela
Espalhar o bem
Aprender com ela.

Relva 2015-01-24
Aníbal Raposo 






















TANGO

Dançam lua e sol na pista dos sentidos
Cheira a erotismo, sons à flor da pele
Há um tango em chamas, fogo que os impele
À fusão dos corpos, tontos de perdidos.

Relva, 2015-01-24
Aníbal Raposo  

sexta-feira, janeiro 23, 2015



















DOM QUIXOTE

Enquanto houver forças, lança e armadura
Vou ser cavaleiro de triste figura.
Tomarei castelos, de velas ao vento
Por ti meu amor, meu precioso alento.

Inoportuno herói, procuro impossíveis,
O bem absoluto, porque sou propenso
A buscar quimeras, mesmo inatingíveis
Não concebo existir atado ao bom senso.


Relva, 2015-01-23
Aníbal Raposo

quarta-feira, janeiro 21, 2015




















GATOS

Gosto dos meus gatos.
Andam sempre à solta. Reis da liberdade.
Têm sete vidas. Se caem é de pé e com dignidade.
Olhos curiosos. Instinto apurado. Muita inteligência.
Sendo seres altivos baixam a acidez da minha existência.


Relva, 2015-01-21
Aníbal Raposo

Foto de Aitor Rioja

sábado, janeiro 17, 2015













DA LEITURA

Se me ponho a ler
Vão-se os meus cuidados.

O sonho dá-me asas,
Plano sobre as casas,
Abanco em telhados.

E percebo pontes,
Descubro horizontes
Morosos de ver.


Relva, 2015-01-18
Aníbal Raposo

Foto de Yana Bobrykova


















DE NOVO A ESTRADA

Já vou de romeiro, que é bom caminhar
Já rezo na estrada, já posso pensar:
P'ra quê tanta proa, porquê tantos medos
Se a vida se esvai num estalar de dedos?

Relva, 2015-01-17
IR Aníbal Raposo

sábado, janeiro 10, 2015











IRMÃOS

Um Raul e outro Jorge,
Saídos do mesmo alforge,
Santos à sua maneira.
Tecem-me os sons nesta lida.
Dois irmãos meus, dois romeiros
Gente boa, companheiros.
Um é anjo de ladeira
Ao outro devo-lhe a vida.

Relva, 2015-01-10
Aníbal Raposo

Singela homenagem a duas almas singulares.














CAFÉ

Sei bem quem és, meu amigo
Que te cuido na fajã
Podes crer que não consigo
Passar sem ti, de manhã

Divino aroma, alegria
Sabor que me põe desperto
No desafiar do dia
Com vigor, de peito aberto

Relva, 2015-01-10
Aníbal Raposo

quinta-feira, janeiro 08, 2015




















HAIKAI

Afirmam que cai?
Que no inclinar se aguente.
Ao prumo se é gente!

Relva, 2015-02-08
Aníbal Raposo

quarta-feira, janeiro 07, 2015



















NOTAS DE PALHAÇO

Ao libertar suaves notas calmas,
Sons de finados, filhos do cansaço.
Senti que se fundiam brandas almas
De seres sensíveis com semblantes de aço.

Dia após dia, penso no que faço
Nesta sombria, suja e fria esquina.
Levar à cena a pobre e nobre sina
De risos vender. Eu, triste palhaço.

Possuo maleitas que não têm cura
E embora enfrentando uma vida dura
Mantenho esta fé, flor do meu jardim

De gozar o sonho, mesmo que imperfeito,
Que me adoça a vida, que me aquece o peito:
Manter esta graça de me rir de mim.


Relva, 2015-01-07
Aníbal Raposo

terça-feira, janeiro 06, 2015


























RACISMO

Se imergisse meu amor
No preconceito da cor
Nauseabundo e abjeto
Pintava a cara de preto

Se em cada coloração
De rosto não visse um irmão.
Vou dizer, para ser franco.
Pintava a cara de branco


Relva, 2015-01-06
Aníbal Raposo

domingo, janeiro 04, 2015



















ELOGIO DA CHUVA

Não gosto de desertos
Desses lugares estéreis e inóspitos
Onde se faz o pranto às novidades
E não se fantasiam notícias redentoras.

Ao invés, gosto de caminhar, serenamente,
À descoberta dos altos cumes das montanhas
Onde se tecem gestações de tempestades
De rios impetuosos e de chuvas criadoras.


Relva, 2015-01-04
Aníbal Raposo

sexta-feira, janeiro 02, 2015



ESBAT

Querem-me aqui?

Prendam-me bem que me sorvem luas cheias.
Atem-me pesos de chumbo nestes pés gajeiros.

Senão, vou-me nos ventos.
Nos mesmos que incham
Os panos dos veleiros.


Relva, 2015-01-02
Aníbal Raposo








DUNAS

É no calor febril das dunas
do teu corpo que enlouqueço.

No recato dos teus oásis
a minha eterna sede mato,
danço contigo e adormeço.


Relva, 2015-01-02
Aníbal Raposo

Foto de Simon Chaput
ALGUMAS NOTAS

Abre bem os olhos
E estremece quando ouvires
O som da iniquidade.

Relva, 2015-01-02
Aníbal Raposo

Foto de Mumin Kurtulus