sexta-feira, fevereiro 27, 2009



EM CADA VERSO

Em cada verso vou cantar-te, amor.
No teu compasso as notas certas planto.  
Bebo-te os lábios, doces, de licor.
Vamos lavrar os dois um mar de espanto.

Ponta Delgada, 2009-02-26
Aníbal Raposo

quinta-feira, fevereiro 26, 2009


QUARTA-FEIRA DE CINZAS


Não te esqueças que és pó!

Poeira das estrelas

que alguém aglutinou

para tu seres.

 

E a poeira que és,

desagregada em função

da tua anunciada morte,

será de novo joeirada

pela invisível mão

do Criador.

 

Poderá devir depois

noutro lugar, noutra coisa

ou noutra criatura,

mas habitará o universo

como poeira das estrelas

até ao fim dos tempos.

 

Sonha!

Que sonhar é ser eterno...

 

Ponta Delgada, 2009-02-25

Aníbal Raposo


SELO BLOG DORADO

Fui presenteado com o selo "Blog Dorado", pela Eelleenn do blogue (http://felixahel.blogspot.com) e vou atribui-lo a alguns amigos.

Agradeço do coração à Eelleenn faço-vos a todos um convite para passarem pelo blogue dela.

As regras são:

1 - Exibir a imagem do selo;
2 - Postar o link do blog de quem te mandou;
3 - Escolher 10 blog´s e distribuir o selo;
4 - Avisar seus escolhidos. 

Peço desculpa por não poder contemplar mais amigos mas só podem ser 10.

E os nomeados são:

Sônia Schmorantz - http://schsonia.blogspot.com;
Fátima Borges - http://deliriosdasborboletas.blogspot.com.

 Beijos nas meninas, abraços nos rapazes.

Aníbal Raposo

segunda-feira, fevereiro 23, 2009



DANÇAS DOUTROS CARNAVAIS

Não me venhas de novo a seduzir
com conversa fagueira
e jogos imorais. 

Rasga-me esta máscara
e presenteia-te, por uma vez,
com um favor singelo:
não mintas mais.

Disfarces para quê
se tu não és faceira?

A ti, bem te conheço,
de antanho e de ginjeira,
das danças tristes, funestas,
doutros carnavais.


Ponta Delgada, 2009-02-23
Aníbal Raposo

sexta-feira, fevereiro 13, 2009



AMANHÃ NÃO TE DAREI FLORES

Amanhã,
por ser banal,
não te darei flores.

Convidar-te-ei, tão somente,
para um lugar tranquilo à beira-mar
e dar-te-ei um longo e húmido beijo.

Em seguida,
far-te-ei erguer comigo
uma taça de bom vinho
e brindarei à rosa das rosas,

à mais delicada que conheço:
tu, meu amor. 

Ponta Delgada, 2009-02-13
Aníbal Raposo

quarta-feira, fevereiro 04, 2009




POEMA PARA A MULHER QUE PASSA


Podias ser Lianor
Pois que caminhas formosa
Pela verdura descalça.

E garota de Ipanema
Já que tu és coisa linda
Tão linda e cheia de graça.

Ou Rosinha dos limões
Fada de olhar feiticeiro
Com puro ar de chalaça.

Mas por não saber, princesa,
Que nome te baptizou
Prefiro dizer, riqueza,
Como o poeta cantou:

Passou uma delicadeza,
Uma mulher que ficou.


Ponta Delgada, 2009-02-05
Aníbal Raposo

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Recebi da minha querida amiga, a poetisa Betina Moraes, do blogue “Versos e idéias”, um convite para executar a seguinte tarefa: 

1 - agarrar o livro mais próximo; 
2 - abrir na página 161; 
3 - procurar a 6ª frase; 
4 - colocar a frase completa no blogue; 
5 - produzir um texto com a frase; 
6 - repassar a "tarefa" para 5 pessoas.

O livro que estava mais próximo era "Ofício cantante" de Herberto Helder, publicado em Janeiro de 2009 pela editora Assírio e Alvim – capa dura. A sexta frase do poema “Lugar último", que está na página 161, é a seguinte:

 “Passou uma delicadeza, uma mulher que ficou.”

O que saiu foi o poema acima. 

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Convido agora para a ciranda:

Paula Raposo do blogue "As minhas romãs"

http://romasdapaula.blogspot.com/

Manzas do blogue "Pensamentos"

http://pensamanzas.blogspot.com/

Eduardo Aleixo do blogue "À beira de água"

http://ealeixo.blogspot.com/

Ana Martins do blogue "Ave sem asas"

http://avesemasas.blogspot.com/

Conceição Bernardino do blogue "Amanhecer & palavras ousadas"

http://amanhecer-palavrasousadas.blogspot.com/


Sei que às vezes não é apetecível escrever estando condicionado a um texto. No entanto, espero que aceitem o desafio.

Beijos às meninas e abraços aos rapazes!



segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Poema marginal




POEMA MARGINAL

Ainda não se enxerga a madrugada
quando o novo poema prepara seu iminente parto.

Fermenta na vesúvica erupção da mente,
para depois fluir em brasa, folha abaixo,
na inesperada torrente lávica das palavras.

Nasce às vezes sonoro, às vezes grave,
noutras por entre loucos, alarves e insanos risos.
Brota dos desconexos gestos báquicos,
irreflectidos, no escárnio cínico dos espelhos.

Acabou de mijar, sem pudor algum,
nas delicadas esquinas de convenções
secular e laboriosamente trabalhadas, 
escarnecendo, a mostrar os dentes podres,
do que é o simples e vulgar bom senso.
Não posso nem te quero segurar,
poema sem amarras.

Foi opção tua vir assim ao mundo:
livre e marginal.

Meu poema vivo,
poema sem-abrigo. 


Lisboa, 2009-02-02
Aníbal Raposo

domingo, fevereiro 01, 2009


DA BATIDA INESPERADA DO VENTO


Perdidos dentro dos nossos domésticos afazeres diários,

soporificamente embalados nos braços de Morfeu,

nem sempre nos damos conta

dos sinais premonitores da tormenta.

 

Então, quando ela surge, a sensação 

 é a de termos sido repentinamente abocanhados

pela ferocidade das mandíbulas dum tigre.

 

Perante a enorme sacudidela de vento

nas velas do navio da nossa vida,

sentimo-nos sem bússola, perdidos,

desesperados com a situação.

 

Nessa altura não estamos preparados para vislumbrar

a soberana oportunidade que nos é dada

para refazermos o rumo e retomarmos

o equilíbrio da nossa barca.

 

Mas, normalmente,

depois da grande e inesperada oscilação

navegamos mais adultos e mais sábios

na vasteza do mar-oceano da nossa existência.


Lisboa, 2009-02-01
Aníbal Raposo
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Esta é a minha participação no 11.º jogo das 12 palavras do blog Eremitério

Palavras-desafio:

Batida; dentro; Morfeu; navio; oceano; oscilação; sacudidela; situação;soberana/o; tigre; vasteza; vento.

Continuo a divertir-me. Obrigado Eremita.



DA ACENTUAÇÃO

Já não falo de não terem vincado
no nato volume, o i de minha graça,
que a língua lusa e, já agora, eu,
vá lá saber-se por que vão capricho,
fazemos questão que seja acentuado e grave. 

Dir-se-á que foi um lapso,
falta de atenção e de tempo disponível.

Pois bem, não quero lançar anátemas:
aceito e acredito que assim tivesse sido.

No entanto,
na minha provecta idade
tenho como dado e provado
que todas as acções obtêm sempre o tempo preciso
que estamos pré-dispostos a dispensar-lhes.

Acentuo, porém, com amizade
mas com acento muito grave,
não ter sido desenhado o tempo e o espaço
para conhecermos e distribuirmos abraços cúmplices
aos diversos pais e mães
da cópula feliz
que gerou a criança linda
que ontem nasceu
no Onda Jazz.

Lisboa 2009-02-01
Aníbal Raposo