quinta-feira, dezembro 02, 2010


A VELHA DO ZÉ MOURINHO

Apesar de iracundo
O Mou é o melhor do mundo
Vocês não levem a mal

Por muito que se reclame
Já foi o "Special one"
Agora "El especial"

Tal como se estraga bom vinho
E não há santo que não peque
O Barça pôs o Mourinho
A lavar no Cinq à Sec.

Ponta Delgada, 2010-12-02

Nota: "Velha" é sinónimo de cantiga de escárnio e mal dizer na ilha Terceira, Açores

quarta-feira, novembro 17, 2010


(foto: Sónia Nicolau)


DIA NA FAJÃ


Acorda mulher

Que já é manhã

Um canário canta

E enche a fajã.


É levantar cedo

Que a faina é comprida

Mexe-me esses ossos

Termina uma vida.


O sol está a pino

O calor aperta

Pios de milhafre

Falésia deserta.


E tu meu amigo

Afoga esta mágoa

A maré está cheia

Marrecos p'ra água.


Logo ao fim da tarde

Faz maré vazia

Vai pedir um laço

À casa da tia.


Vê lá não me enredes

Em conversas-teia

É que as duas manas

Já estão à moreia.


Depressa p’ra poça

Vai a minha equipe

Que existe uma taça

Aqui em despique.


Carrega no engodo

Despe-te que suas

Já sabes que a taça

É sempre p’ras duas.


Chega o fim do dia

Sem fumos nem carros

Ouve a sinfonia

O som dos cagarros.


Cara sem vergonha

És mesmo um cachorro

Não me ouves gritar

Ai Jesus que eu morro?


Ti Mané Caroucho

A coisa está feia

Dizem que já nascem

Bananas na areia.


Olha, não me digas...

Arreda! Demónio!

Dessa qualidade

Só tem o Sidónio.


Venho p’ra folia

Que não tenho sono.

Não me digas que esta

Rocha não tem dono...


Peixe no braseiro,

Hora de jantar,

Se és bom companheiro

Vem aqui cantar.


Vem aqui cantar

Nesta noite bela

Mas vais amarrar

Primeiro a cadela.


Não te preocupes

Já está amarrada

Não pega em ninguém

Aqui da latada.


No escuro da lua

Solta os teus desejos

Acende o farol

Vai aos caranguejos.


Com vento do sul

E um breve aguaceiro

Leva um saco grande

Vais ser o primeiro.


Ouve rapazinho

Já arranjei o saco

E vou-me aos fidalgos

P’ro pé do Buraco.


Depois da apanha

Se estiveres gelado

Passa cá em casa

E toma um abafado.


Toma um abafado

Que fugiste à selva

Num dia passado

Na Rocha da Relva.


Relva, 17 de Novembro de 2010

Nota:

Esta é uma cantiga ao gosto popular, escrita em código rocheiro (falar dos utilizadores da fajã da Rocha da Relva), que será gravada no meu próximo CD.

quarta-feira, setembro 15, 2010



SETEMBRO

Chegou Setembro.

O choro e o cheiro das uvas maduras
fundiram-se na alegria do vinho novo.

Aguardo agora que as folhas caiam comigo,
suavemente, nos amarelos de outono.

Quando as primeiras chuvas do inverno chegarem,
prometo que estamparei na minha velha face
um riso de menino inventor de primaveras.

Ponta Delgada, 2010-09-15

sexta-feira, agosto 27, 2010



QUEM TE DISSE

Quem te sugeriu que atentasses bem ao círculo da vida
Porque não há sucesso ou mal que sempre permaneça?
Quem te disse para nunca amares o poder só pelo poder
E que fosses lesto no agradecer e lento no protesto?

Quem te alvitrou que a vida é bela mas um risco permanente
E que quem o compreende e assimila cresce e se humaniza?
Quem te disse para não remoeres constantemente as tuas mágoas
E gozares daquilo que é presente pois que é dádiva dada do mais alto?

Quem te propôs seres insubmisso e forte em tua mente
E praticares a arte de duvidar do que facilmente te é doado?
Quem te ensinou que somos treinados para ser obedientes servos
Do nosso eu, terreno íntimo onde devemos ser senhores?

Quem te lembrou que o silêncio é de ouro e oração dos sábios?
Que quando te calas mantens a dignidade face à injustiça?
Quem te disse que a capacidade de te entenderes, saberes de ti,
Não se aprende nos bancos da escola mas calcando o pó da estrada?

Quem te aconselhou a te sentires bem na tua pele
Já que és um mero viajante na estrada do tempo?
Quem te disse que devias celebrar a tua breve existência
Como se assistisses deslumbrado ao maior espectáculo da tua vida?


Ponta Delgada, 2010-09-03

domingo, agosto 22, 2010



ESTIO

É bom, feliz, curto e sensual, o quente estio.

Preenche, por instantes,

O alienante círculo anual das nossas vidas,

Vezes sem conta repletas de vazio.


São Caetano, ilha do Pico

2010-07-26

quarta-feira, julho 28, 2010



UMA "VELHA
"

Um bispo olhou p'ra uma tia
Parecendo até que via
Uma alma do outro mundo.

Perguntou-lhe ela se olhava
Para uma cruz que brilhava
No seu decote profundo.

Diz o bispo: Ai meu Jesus!
Muito antes p'lo contrário:
Não apreciava a cruz
Meditava no Calvário.


Feita em S. Caetano, ilha do Pico nas férias em 2010-07-25.

Nota:
As "velhas" são cantigas de escárnio e maldizer, humor negro e non-sense, paródias e sátiras através da poesia. Os seus grandes criadores são naturais da ilha Terceira. Esta aqui é uma homenagem dum micalense bem humorado que aprecia o género.

quinta-feira, junho 17, 2010



Aqui está o novo single dos Connection no qual colaborei com a composição da melodia e com a escrita da letra. A música base é do meu querido amigo Mário George Mello, teclista e compositor. Canto a música, na qualidade de convidado, com a boa companhia do Sílvio Ferreira, vocalista da banda e uma das vozes de referência nos Açores. Para mim foi um desafio, uma festa e uma honra trabalhar num projecto diferente, de rock electrónico, com gente mais nova mas com muito talento. Espero sinceramente que gostem. E aguardem porque os Connection vêm aí com mais...


SERES O MEU AMOR

Seres o momento
De ternura
Do olhar...

Seres a estrela
Seres a linha
Do meu rumo...

Seres o meu amor…
Amor o que é?
É seres igual a ti
Minha querida.

Seres a minha luz…
A luz, o que é?
É seres p’ra mim, assim
Mais do que a vida.

Seres a minha lua…
A lua cheia, o que é?
É a cor do teu perfume:
Folha e gume.

Vaga sobre vaga
Do meu mar.
Subir, planar, voar, vencer
Chegar ao cume.

E navegar
Pelo teu corpo
E naufragar
Nas vagas do ciúme.

Soçobrar
Cair e aportar
Nuns braços
Que me apertam
Fogo e lume.

Seres o meu amor…
Amor o que é?
É seres assim
Como um ribeiro
De água clara.

Seres o meu destino…
Um desatino, o que é?
É seres assim,
Como um brilhante
A pedra rara.

Seres a minha lua
A lua cheia, o que é?
É a cor do teu perfume:
Folha e gume.

Vaga sobre vaga
Do meu mar
Subir, planar, voar, vencer
Chegar ao cume.

E navegar
Pelo teu corpo
E naufragar
Nas vagas do ciúme.

Soçobrar
Cair e aportar
Nuns braços
Que me apertam
Fogo e lume.

Ponta Delgada, 2010-06-17

sábado, maio 22, 2010


ROCHA DA RELVA

Aqui está o lugar onde, aos fins-de-semana, trabalho a minha vinha, pesco, estou com os meus amigos, faço música e poesia e me afasto do mundo. Fiz este pequeno vídeo com um tema do meu CD "A palavra e o canto" intitulado "E do verbo" para vos dar uma idéia deste sítio que muito amo.

Ponta Delgada, 2010-05-22

sexta-feira, maio 07, 2010


POR EXEMPLO, SUPONHAMOS

Vamos supor, por exemplo,
Um sol que estes céus fendia
E se oferecia em calor,
E que em nós dois se acendia
Uma chama de alegria
Em cada gesto de amor,
Trocado no nosso templo.

Vamos supor, por exemplo...


Por exemplo, suponhamos,
Um arco-íris no ar,
Um riso de vagabundo.
Que conseguimos achar,
Um jeito de festejar,
Em cada simples segundo,
O muito que nos amamos.

Por exemplo, suponhamos...


Ponta Delgada, 2010-05-07

sábado, maio 01, 2010



1.º de Maio de 1974

Enchia a praça um maremoto de alegria,
Brilhava o sol em nossos olhos espantados,
Pelas varandas ledos acenos, aliados,
Por fim Abril no mês de Maio florescia.

Era a poesia, o canto à solta na cidade,
Uma folia que, em verdade, não mais vi.
Foi nesse dia, em verdes anos, que entendi,
O sabor único da Santa Liberdade!

Ponta Delgada, 2010-04-01

terça-feira, abril 20, 2010



HOMENAGEM

Os meus amigos da B@nda.com, decidiram homenagear a minha música no dia 25 de Abril (sempre), pelas 21h30 no bar, Baía dos Anjos, nas Portas do Mar, em Ponta Delgada, ilha de S. Miguel, Açores.
Fiquei muito sensibilizado pela ideia e agradeço-lhes do coração.
Estão todos convidados.
Beijos e abraços.

quinta-feira, abril 01, 2010



RESSURECTIONE

De cada vez que alço,
A mira do meu olhar
Para os olhos teus,

Reclamo apenas três segundos
Para ressuscitar,
E subir aos céus.

Ponta Delgada, 2010-04-01

segunda-feira, março 15, 2010



ALAMBIQUE

Despeja-se no pote alado
e de redonda forma,
trinta litros de emoções diversas.

Aquece-se o dito volume líquido
em lume brando.

(Um pôr-do-sol visível
através da janela da sala
do destilador aprendiz, pode ajudar...)

Algum tempo depois,
quando a lembrança daquelas emoções
atinge a temperatura indicada,
começam a soltar-se algumas lágrimas
e, pela pela cabeça de turco,
palavras etéreas, sem muito nexo,
bastas vezes misturadas com raros vapores etílicos.

Tais palavras,
arrefecidas pela água fria da razão,
que deve fluir de forma continuada
para o interior do vaso cilíndrico,
acabam por condensar-se
na serpentina.

Escorre, então,
pelo fino bocal do citado vaso,
um aromático destilado.

Deve pensar, seriamente, se quer aproveitar
os primeiros dez por cento do líquido.

O resto poderá ser poesia.

Não será capaz, no entanto,
de controlar a essência alambicada
com um pesa-afectos,
pois que de tal instrumento,
ainda que por muitos desejado,
não consta a existência.

O resultado, depende apenas de duas coisas:
- da arte de operar o alambique;
- da qualidade das emoções vividas.

Ponta Delgada e Lisboa, 15 de Março de 2009

segunda-feira, março 08, 2010


Pablo Picasso - mulher com livro

MULHER

Nuns dias rosa, tão vermelha de paixão
Noutros singela, pura, lhana, um malmequer
Ainda noutros a partir-me o coração
Mas sempre flor, meu bem-querer, minha mulher!

Ponta Delgada, 2010-03-08