segunda-feira, março 15, 2010



ALAMBIQUE

Despeja-se no pote alado
e de redonda forma,
trinta litros de emoções diversas.

Aquece-se o dito volume líquido
em lume brando.

(Um pôr-do-sol visível
através da janela da sala
do destilador aprendiz, pode ajudar...)

Algum tempo depois,
quando a lembrança daquelas emoções
atinge a temperatura indicada,
começam a soltar-se algumas lágrimas
e, pela pela cabeça de turco,
palavras etéreas, sem muito nexo,
bastas vezes misturadas com raros vapores etílicos.

Tais palavras,
arrefecidas pela água fria da razão,
que deve fluir de forma continuada
para o interior do vaso cilíndrico,
acabam por condensar-se
na serpentina.

Escorre, então,
pelo fino bocal do citado vaso,
um aromático destilado.

Deve pensar, seriamente, se quer aproveitar
os primeiros dez por cento do líquido.

O resto poderá ser poesia.

Não será capaz, no entanto,
de controlar a essência alambicada
com um pesa-afectos,
pois que de tal instrumento,
ainda que por muitos desejado,
não consta a existência.

O resultado, depende apenas de duas coisas:
- da arte de operar o alambique;
- da qualidade das emoções vividas.

Ponta Delgada e Lisboa, 15 de Março de 2009

18 comentários:

  1. Fantástica analogia Aníbal. Adorei, parabéns.
    Grande abraço

    ResponderEliminar
  2. Há tempos que não vinha aqui. Gosto de te ler.
    Beijos.

    ResponderEliminar
  3. Querido amigo,

    destilámos memórias e futuros, e a serpentina mais uma vez nos envolveu no seu doce vapor.

    ResponderEliminar
  4. Anibal,

    Grato pela sua presença e pela bondade das suas palavras.

    Um abraço!
    AL

    ResponderEliminar
  5. "O resto poderá ser poesia." De facto...
    Beijos.

    ResponderEliminar
  6. gostei do poema.

    e o resto pode ser poesia.

    bem escrito!

    beij

    ResponderEliminar
  7. Aníbal

    Lindo Alambique...
    Adorei a poesia e vou voltar temos muita poesiapara partilhar.
    Meu amigo
    Nete correr de tempo o tempo de te mandar um beijinho.


    Beijos

    ResponderEliminar
  8. a exalação

    e

    a exaltação


    [do perfume
    dos afectos]


    *abraço*
    *grato pela
    visita*

    ResponderEliminar
  9. Isso é muito profundo e para se pensar mais. Você sabe e é poeta dos bons. Abraço

    ResponderEliminar
  10. fermentar
    desmesurada
    mente
    os sentidos

    o que escorre
    é seiva!

    _____

    um abraço

    ResponderEliminar
  11. Encantada com este poema "cientifico e químico". Que gosto lê-lo e que imaginação!

    Beijo

    ResponderEliminar
  12. Uma sublimação da poesia... esplendido!!!!

    Beijinhos,
    Ana Martins

    ResponderEliminar
  13. oiii!
    como vc está??
    eh bom passar por aqui neah
    :)
    disposição pra escrita!
    muito bem^^

    beijoss

    ResponderEliminar
  14. Amigo: gostei de te ler.
    Olha: vai ao meu blog, que tenho lá um presente para ti. Bom fim de semana

    ResponderEliminar
  15. Olá!! Seu blog é dez. Continue escrevendo belamente.

    Bjs

    ResponderEliminar
  16. Anibal,

    Bom momento este em que te li.
    Foi um prazer reler-te ao destilar aqui as minhas memórias.

    BOA PÁSCOA.

    Beijos.

    ResponderEliminar
  17. Destilador de metáforas! De um lado poesia de outro as emoções...

    Um prazer, esta leitura.

    ResponderEliminar
  18. Bem vindo Aníbal!
    Tens andado um pouco arredado destas bandas e isso afasta-nos. Sem dar-mos conta começamos a navegar outras águas ...
    Deixemos então escorrer as emoções e os afectos rumo à poesia.
    Beijos
    Alcina

    ResponderEliminar