quinta-feira, fevereiro 12, 2015





















PAZ PODRE

(Leitura possível duma fotografia)

Houve alguém que suspendeu
usando de arte secreta
o fluir da areia fina
no gargalo da ampulheta.

Quem muita vida viveu
e lê os sinais da sorte
duma completa acalmia
só espera um sismo forte.

O artista e o contrabaixo,
vivem enorme paixão.
Tensões fortes e latentes
dividem o corvo e o cão.

Entre o artista e o corvo
vão só uns metros de chão.
Entre o perro e o instrumento
não se alcança ligação.

Há um contrabaixo e um corvo
mas não há magia, não.
Vejo um cão e um artista
mas não se nota afeição.

A ruína e o poeta
partilham a inquietação.


Relva, 2015-02-12
Aníbal Raposo

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