UMA IMAGEM NO ESPELHO
Ridícula imagem reflectida no espelho?
Ris-te?
Porque tentas tu, sem sucesso
Fazer-te passar por mim?
Eu sou livre e voo sempre que posso.
Sinto o vento na cara
Quando parto para essas viagens solitárias
Por cima dos telhados da cidade.
Viajo numa envolvente de quatro dimensões:
As três do costume mais a da poesia,
E tenho todas as palavras e letras para comprar
No grande hipermercado das emoções à solta.
Tu porém, indigente imagem,
Estás refém, das letras: x e y
As que definem os dois eixos do plano espelhado
Que é, em simultâneo,
Tua morada e cárcere.
Fazes-me lembrar um velho holandês
Que usa roupas esquisitas
E um grande brinco na orelha,
Num esforço inglório para sobressair
Na extrema monotonia
Da infindável paisagem plana,
Olhar de toda a sua vida.
Pobre de ti, reclusa imagem...
Ris-te apenas quando me acho graça
E choras só quando tiro a máscara
Ou me descontrolo.
Lisboa, 2008-10-09
Aníbal Raposo
É o nosso interior, mostrado-nos a contra gosto.
ResponderEliminarÉ a faca afiada no fundo das angústias.
Verdade nua
exposta na ponta da lâmina em que reflete o rosto...
Gostei imenso dos teus testos e da forma como expões a palavra...
Um beijo e muito obrigada pela andança em minha casa