sábado, setembro 17, 2005



AMANHECER NA FAJÃ

Que diremos nós os dois quando chegar a madrugada
E as nossas mãos-palavras se quedarem esclarecidas?
Dançarão os nossos corpos como peixes na corrente?
Ensaiarão voos picados de garajaus famintos?

Que diremos a seguir, quando passar a tempestade
E navegarmos tranquilamente no mar de azeite
Dos sentidos? Seremos como milhafres a voar
Com olhos verde-riso que só o nosso amor inventa?

Que caminhos-prata neste mar de breu rompeu a lua?
Quantas carícias trocaremos ao canto dos cagarros?
Que subtis destilados soltarão línguas tão domésticas?
A nossa pequenez na contemplação destes luzeiros...

Bendito seja Deus por me ter vivo
E por me dar a benção de amanhecer contigo na fajã...

Lisboa
2005-09-12

1 comentário:

  1. Obrigada pela (boas!) novas...:->

    Já agora...o meu eterno preferido:

    A máscara

    Dêem-nos tempo para pormos a máscara

    Perdidos que estamos nas esquinas do medo

    Dêem-nos um barco, um leme e uma bússola

    E partiremos de manhã cedo


    Temos um sol quente

    Um céu azul forte

    Vamos no mar largo

    Abrimos o pano todo ao vento norte


    Queremos um quarto forrado de espelhos

    Para mirarmos a nossa nudez

    Corremos o risco de chegarmos a velhos

    Sem nunca sabermos da loucura a lucidez


    Sabemos do beijo que roça a carícia

    Sabemos da caixa que guarda os segredos

    Sabemos da vida, fingida, a malícia

    Tocamos na lua com a ponta dos dedos



    Aníbal Raposo, Maré de Agosto de 1994

    Beijo...Ly [ex antigona;-)]

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