domingo, dezembro 22, 2013

















INVERNO

Três anjinhos brancos a nadar no inferno
Dizem-me que hoje começa o inverno.
Um dia maior só por ser tão curto
Num país de escolas da arte do furto.


Há carniça fresca e abutres em luta
E um galo de fraque servindo sicuta.
Em Belém há casas bem mal frequentadas
O demo é solista de missas cantadas.


Paciências chinas num infindo advento
Rios tão educados no seu movimento.
Se a porca já guincha vem aí matança
Um servil mordomo é o mestre da dança.


Numa mãe ditosa feita meretriz
Um robô biónico fala mas não diz.
Um eterno seguro em equilíbrio instável
Enorme eucalipto medra em terra arável.


As velas da esperança não chegam à costa
Cospem-nos em cima e a gente gosta.
Mil e uma peças, os mesmos atores
Duas mil mentiras, três mil impostores.


Vamos erriçados em patranhas tantas...
Oh mar do capelo quando te levantas?

Relva, 2013-12-21
Aníbal Raposo

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