sexta-feira, dezembro 28, 2018

Põe um presépio no peito
















PÕE UM PRESÉPIO NO PEITO

Num Natal que se adivinha
Em consumo e confusão
Vê se cabe uma lapinha
Dentro do teu coração.
Com a estrela do Oriente
A refulgir lá no céu
Avisando toda a gente
Que Jesus Cristo nasceu.
Um aconchego de gruta
Abrigo, na noite fria
E um galo que à treva bruta
Proclama o nascer do dia
Um anjo a pairar na serra,
Glória a Deus lá nas alturas!
Proclamando a paz na terra
A todas as criaturas.
Um São José protetor
E bondoso. O seu destino
É velar com muito amor
Por Maria e o seu Menino
Uma vaquinha e um burrinho
Bafejando com calor
A manjedoura que é o ninho,
O berço do Redentor
Um pastor, a carregar
Aos ombros, como convém,
Uma ovelha. A partilhar
Muito, do pouco que tem.
Reis Magos no seu destino
Caminho tão longo, imenso,
Para ofertar ao menino
A mirra, o ouro e o incenso.
Se o Natal queres festejar
Procede como o pastor
Há tantos a precisar
Dum simples gesto de amor.

(Publicado no jornal Açoriano Oriental em 25 de dezembro de 2018)
Aníbal Raposo

sexta-feira, dezembro 07, 2018

Felicidade






















FELICIDADE

a felicidade acontece
quando um bando de pássaros libertos,
depois de esvoaçarem
como loucos
na minha cabeça,
decidem poisar
a tempo.
alguns
nas cordas
da minha guitarra.
outros
nas cordas
da minha garganta.

Relva, 2018-12-07
Aníbal Raposo

quinta-feira, dezembro 06, 2018

Aniversário




ANIVERSÁRIO

Mensagens tantas, tão belas
Acabei de receber
Pus um "gosto" em todas elas
Foi o que pude fazer.

E que esta agora vos soe
Como um dom, uma virtude. 
Peço a Deus que abençoe
A todos. Muita saúde!

Obrigado.


Relva, 2018-12-06
Aníbal Raposo

quarta-feira, dezembro 05, 2018

Coisas da idade


COISAS DA IDADE

Tenho pensado, é verdade,
Neste meu dia festivo
Que esta coisa da idade
Tem muito de relativo.
Desafiando o engenho
Vamos a situações concretas
Vejam lá que idade tenho
Em cada um dos planetas.
Em Neptuno e em Plutão
E em Urano, é bom de ver,
Sou um lindo rapagão
Acabado de nascer.
Já em Júpiter e Saturno,
Não é nenhuma tolice,
Nem caso de alto coturno,
Eu ando na meninice.
E se pensam que estou velho,
Continuando esta lida,
Em Marte, de tom vermelho,
Estou mesmo na flor da vida.
No lindo planeta azul
Já existe outro cenário
No norte como no sul
Sou rapaz sexagenário.
E, será que é bom augúrio?
Ficam a saber também
Que em Vénus e em Mercúrio
Meu nome é Matusalém.
Relva, 2018-12-05
Aníbal Raposo

segunda-feira, novembro 26, 2018

Saudades da maresia






















SAUDADES DA MARESIA

Dêem-me
Um breve aguaceiro,
Uma lua nova
A brisa do sul
Que eu acendo o facho.

Republicano convicto,
Apreciarei fidalgos.

Um tachinho ao lume.
O sol da amizade.
O verde da salsa.
A luz da pimenta
E a vida com sal.

Saúde!

Lisboa, 2018-11-26
Aníbal Raposo

sexta-feira, novembro 02, 2018

Pão por Deus















Pão por Deus

Ajuda sem dares o nome
Foi sempre o que ouvi dos meus
Quem dá pão a quem tem fome
Está a emprestar a Deus.

Relva, 2018-11-01
Aníbal Raposo

quinta-feira, novembro 01, 2018

Em dia de finados















EM DIA DE FINADOS

Dar muito amor e cuidar
Daqueles que não têm voz
É uma forma de rezar
P'los que se foram de nós.

Relva, 2018-11-01
Aníbal Raposo

sexta-feira, outubro 19, 2018

Fajã




FAJÃ

Lugar de sonho, verde e claridade.
Do sol, da lua, da luz tão fugaz.
Aqui os meus sentidos são verdade.
Aqui meu coração encontra paz.

Relva, 2018-08-25
Aníbal Raposo

sábado, setembro 15, 2018

Aguardando a tempestade





















AGUARDANDO A TEMPESTADE

As nuvens coaram na cinza toda a luz visível.
Imitando as gaivotas beijam a superfície do mar.

Isto não é tempo para pessoas.
Mais valia sermos aves? Peixes? 
Não sei ao certo.

Mas duvido que haja criatura viva
que se adapte sem protesto
a um ar tão denso, de cortar à faca.

Solta-te, duma vez, vento educado!
Derrama-te, copiosa, chuva velada! 

Nada há mais enfadonho
do que meias-tintas
e esperas sufocantes.

Relva, 2018-09-15
Aníbal Raposo

segunda-feira, julho 09, 2018

Dançarina





















DANÇARINA

O teu bater de asas
é uma curta prece..

Parte o coração
de cada ave
do bando que se aninhou
neste meu peito.

Dança,
deusa do amor!

Pois se a vida é breve
colhamos a eternidade
dos momentos.

Relva, 2018-07-09
Aníbal Raposo

Foto: Alexander Yakovlev

quarta-feira, julho 04, 2018

O fim






















O FIM

Caminhante compulsivo que sou
desfruto esta viagem.
Se sei por onde ando,
não sei para onde vou.
Só tenho como certo
um fim, que me seduz.
Um fim onde por fim
haverá luz.

Relva, 2018-07-04
Aníbal Raposo

sexta-feira, junho 22, 2018

Peguei em mim, indignei-me




PEGUEI EM MIM, INDIGNEI-ME...

Eles é que sabem...

Quem somos nós, pobres lusitanos, míseros seres ignaros,
Para contrariarmos as soluções mágicas que nos servem
E nos hão-de redimir, ao juro preciso, justo e correcto de 5,7% ?

Quem somos nós para enjeitarmos as tábuas de salvação
Que tão simpaticamente nos estendem, para que Portugal,
País quase milenar, não se afunde no lodoso pântano da indigência?

Para quê gastarmos uma fortuna a sustentar um governo,
A que chamamos nosso e a quem pagamos para nos desgovernar,
Se existe um FMI, concentrado sumo da inteligência estrangeira,
Que no decorrer duma curta visita ao rectângulo,
Para gentilmente nos pôr a mão à garganta e apertar o cinto,
Numa semana apenas, nos traça o rumo e aponta o norte?

Poderemos nós porventura correr o enorme risco
Experimentado, ao momento, pelos incautos cidadãos belgas?
Como é que eles têm o desplante de prescindir de governo durante um ano
E manter o país a funcionar?

Nós não somos capazes! Nós não podemos viver sem eles...

Acreditemos pois, pela décima centésima vez,
Nas mesma caras, nas mesmas palavras, nas mesmas propostas,
Nos mesmos pulhas, nos mesmos canalhas, na mesma súcia de bandidos.
Essa que chega ao poder com uma mão atrás e outra à frente,
E sai depois gorda, anafada, rica, a sobrenadar em euros,
E a gozar com a nossa cara de lorpas, imbecis .

Assim o queremos, assim o haveremos de ter.

Com a maior das facilidades dão-nos de bandeja as receitas certas para a crise
Cobrando-nos altos juros, penitência adequada aos nossos pecados mortais,
De termos fantasiado, por breves anos, pobres de nós,
Que éramos genuínos europeus e, portanto, ricos.
Mandões e exploradores de outros povos mais a sul
E portanto, naturalmente, mais desafortunados do que nós.
Bem feito!

Esses abutres, esses elementos das troikas da insensibilidade,
Essa corja de vendidos, sem valores nenhuns, nem pinga de moral,
Que são a vergonha da Europa e conspurcam todo o planeta azul,
Podem também ser putativos candidatos a presidentes da república,
E fazerem-se passar por socialistas, sociais-democratas e democratas cristãos.
Ao mesmo tempo, - viva o peixe - já que a carne é fraca,
Podem comportar-se como crápulas, violadores de mulheres indefesas,
Que ganham honestamente o seu salário num qualquer hotel de Nova Iorque.
Quem liga a isso? Pormenores...

Esses grandes filhos da mãe, são ao mesmo tempo imprescindíveis,
Profundos conhecedores das mezinhas certas, dos truques herméticos
Que mantêm viçosa a cor do dinheiro, esse fluido subtil que garante a nossa sobrevivência
Lubrificando a porca engrenagem da máquina que a cada dia alimentamos
E que, verdade seja dita, também nos alimenta.

Eles é que sabem dos juros correctos que deveremos pagar
Por termos experimentado inocentemente a oportunidade única
De saborear, por breves momentos, a ilusória vertigem de sermos ricos,
Enquanto a enorme bolha bolsista, soprada por engravatados vigaristas,
Inchava. Inchava de volume, inchava de activos tóxicos
E flutuava imponderável nos céus azuis da finança internacional
Para vir depois rebentar, inopinadamente, na nossa cara.
Catrapum! Assim. Sem dó nem piedade.

É pois tempo de vertermos algumas lágrimas e de recearmos o dia de amanhã.
Mas deveríamos e poderíamos também rir-nos até às lágrimas,
Na cara dos que nos tramaram a vida e que agora nos imploram votos.

Por que não proporcionar-lhes, em vez dos ditos votos,
Mil milhões de manguitos, servidos de borla e sem juros?

Esta seria a nossa contribuição generosa.
Dos que levaram o país à ruína
Após se terem aboletado,- os sem vergonha-,
Com salários de miséria e com opíparas reformas
De duzentos euros mensais!


Lisboa 2011-05-15

Tu és o meu farol






TU ÉS O MEU FAROL

Às vezes não percebo
esse teu subtil distanciamento

Será que a primitiva paixão já se queda amortecida?
Será que o nosso amor está ser lentamente erodido
pelo cansaço, coacção do nosso dia-a-dia?

Porque não te dispões a comungar comigo
as tuas ânsias, os teus receios, os teus desejos mais íntimos?

Preciso de ti!
Tu, meu amor, és assim como um farol
no meio da cerrada bruma desta minha vida-tempestade.

Tu és a fusão em tons de azul
destas três coisas que amo:
- um céu imenso salpicado de estrelas;
- um mar avassalador pleno de promessas
- um doce mundo recheado de esperanças.

Ponta Delgada, 2009-03-27
Aníbal Raposo

sábado, junho 09, 2018
















OS PÁSSAROS DE VENTO

Ah! Esta constante espera
pela visita dos pássaros
de vento...

Chegam, em grupo,
adejando em círculos,
por cima dos telhados.
Entram, depois, casa adentro,
sem bater à porta.
Sabem-na sem trinco
para antigas e cúmplices amizades.

Em recente visita,
brindaram-me com uma
paleta repleta de cores.
Num golpe de magia,
libertaram estas velhas mãos,
para a vertigem dos tons e do traços
no deserto das telas cruas.

Suspiro
pela próxima.

Prometeram
trazer-me de novo
a música das palavras.

Relva, 2018-06-09
Aníbal Raposo

quinta-feira, março 29, 2018



OFERTAS DE PÁSCOA

Nesses dias de festa
faço um pedido:
-Não me ofereçam mais coelhos,
por favor. Nem de chocolate.

É meu sincero desejo que todos os coelhos
vivam por muitos anos e em paz,
saltitando felizes
por prados verdejantes.

Mas que uma vez falecidos,
assim se quedem.

É que se reproduzem muito.
Não atormentem pois os nossos sonhos
com esperanças de ressurreição.

Contudo, aceito um ovo.

Por razões de saúde,
sei que não devia.

Mas é que ouvi de alguém
que quem não peca
jamis poderá saber que a virtude
tem um vincado sabor a chocolate.

Relva, 2018-03-29
Aníbal Raposo

quarta-feira, março 21, 2018




















POEMA VIVO

Não consigo tecer um poema
se estás por perto.

Como posso fazê-lo se me levas
todas as palavras bonitas
meu amor?



Relva, 2018-03-21
Aníbal Raposo

quarta-feira, março 07, 2018


















MALDIÇÃO

Eu bem sei que a contrição
É mandamento de Cristo
Mas não sei se há perdão
P'rós pulhas que fazem isto.

Relva, 2018-03-07
Aníbal Raposo

quarta-feira, fevereiro 14, 2018


























DIA DE NAMORADOS

Que despudor
Dar uma flor
A outra flor,
Por ser seu dia,

A quem me envia,
Com alegria,
Dia após dia
Jardins de amor.

Relva, 2018-02-14
Aníbal Raposo